quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Sumula do Discurso do Premiê De Israel na ONU 27/09/2012


Segundo a leitura de analistas israelenses, o significado do discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, perante a Assembleia Geral da ONU nesta quinta-feira, é um compromisso público de atacar o Irã até abril ou maio de 2013, se o país persa não abrir mão de seu programa nuclear.
Para o analista politico do canal 10 da TV israelense, Raviv Druker, "o ultimato que Netanyahu tentou ditar à comunidade internacional compromete, antes de tudo, a ele mesmo".
O premiê de Israel mostrou um diagrama de sua visão sobre o programa nuclear iraniano e declarou que a "linha vermelha" que deve ser imposta pela comunidade internacional será após a finalização do processo de enriquecimento de urânio em nível médio.
Segundo analistas militares, dentro de aproximadamente 6 meses as instalações nucleares iranianas poderão completar essa etapa.
Para Netanyahu, esse será o "último momento" para barrar o armamento nuclear iraniano, pois, depois dessa fase, os iranianos "poderão produzir uma bomba nuclear em locais pequenos e subterrâneos" que até os serviços de inteligência mais sofisticados do mundo não poderão detectar.
Netanyahu também afirmou que nas etapas preliminares, de enriquecimento de urânio em níveis baixo e medio, são necessárias instalações amplas onde possa ser colocado um grande número de centrífugas, mas nas etapas posteriores "são suficientes locais pequenos" cuja destruição seria mais difícil.
De acordo com o analista Emanuel Rozen, o ultimato e os prazos estabelecidos por Netanyahu em seu discurso na ONU "demonstram o fracasso diplomático" do premiê israelense. "Esse diagrama deveria ser apresentado por ele ao presidente Barack Obama de forma discreta, e não em público", afirmou Rozen.
No entanto, o presidente americano rejeitou o pedido de encontro do premiê israelense durante sua visita aos Estados Unidos, afirmando que está ocupado com a campanha eleitoral. A rejeição ocorreu depois que Netanyahu criticou em termos duros a política dos Estados Unidos em relação ao Irã, afirmando que "aqueles que se negam a colocar limites ao Irã não têm direito moral de impor limites a Israel", em referência a declarações de dirigentes americanos contra as ameaças israelenses de atacar o Irã.
A líder do Partido Trabalhista, Shely Iahimovitz, também criticou a atitude de Netanyahu em relação aos Estados Unidos e afirmou que as declarações que o premiê fez na ONU "deveriam ser feitas nos bastidores e não em publico". Para Iahimovitz, Netanyahu "coloca em risco" a relação com o principal aliado de Israel, criando uma crise com os Estados Unidos.

Discurso na ONU do Primeiro Ministro de Israel na íntegra-


A íntegra do discurso de Benjamin Netanyahu na ONU em  25/09/2011

"Vocês sabem por que somos chamados "judeus"? Porque viemos da Judeia. No meu gabinete, em Jerusalém, há um... há um selo antigo. É o timbre de um oficial judeu da época da Bíblia. O selo foi encontrado ao lado do Muro das Lamentações, e isso remonta há 2.700 anos, ao tempo do rei Ezequias. Jacó e seus 12 filhos percorriam essas mesmas colinas da Judeia e Samaria há 4 mil anos, e tem havido uma presença judaica contínua naquela terra desde então".

Transcrição integral do discurso de Benjamin Netanyahu, primeiro ministro de Israel, na 66ª. Assembleia Geral da ONU, em 23/9/2011

Senhoras e senhores, Israel estendeu sua mão para a paz a partir do momento em que foi estabelecido, há 63 anos. Em nome de Israel e do povo judeu, eu estendo a mão de novo hoje. Estendo-a para o povo do Egito e da Jordânia, com renovada amizade por vizinhos com os quais assinamos [tratados de] a paz. Estendo-a ao povo da Turquia, com respeito e boa vontade. Estendo-a ao povo da Líbia e da Tunísia, com admiração por aqueles que procuram construir um futuro democrático. Estendo-a para os outros povos do norte da África e da Península Arábica, com quem queremos forjar um novo começo. Estendo-a ao povo de Síria, Líbano e Irã, com admiração pela coragem dos que lutam [contra a ] repressão brutal.

Mas, em especial, estendo minha mão para o povo palestino, com quem buscamos uma paz justa e duradoura.

Senhoras e senhores, em Israel nossa esperança de paz nunca diminui. Nossos cientistas, médicos, inovadores, usam seu talento para melhorar o mundo de amanhã. Nossos artistas, nossos escritores, enriquecem o patrimônio da humanidade. Agora, sei que essa não é exatamente a imagem de Israel que muitas vezes é retratada nesta sala. Afinal, foi aqui, em 1975, que o antigo anseio do meu povo para restaurar nossa vida nacional em nossa antiga pátria bíblica - foi quando esse [anseio] foi traçado... ou melhor, estigmatizado, vergonhosamente, como racismo. E foi aqui, em 1980, aqui mesmo, que o histórico acordo de paz entre Israel e Egito não foi elogiado; foi denunciado! E é aqui que ano após ano Israel é injustamente escolhido como vítima a ser condenada. É escolhido como vítima a ser condenada com maior frequência do que todas as nações do mundo, juntas. Vinte e uma das 27 resoluções da Assembléia Geral condenam Israel - a verdadeira democracia do Oriente Médio.

Bem, esse é um aspecto triste da ONU. É o... o teatro do absurdo. Não só Israel é apresentado como o vilão; com frequência, os verdadeiros vilões desempenham o papel de protagonistas: a Líbia de Kadafi presidiu a Comissão das Nações Unidas sobre Direitos Humanos; o Iraque de Saddam chefiou o Comitê da ONU sobre Desarmamento.

Pode-se dizer: isso é passado. Bem, aqui está o que acontece agora... exatamente agora, hoje. O Líbano, controlado pelo Hezbollah, preside o Conselho de Segurança da ONU. Isso significa que uma organização terrorista preside a instância encarregada de garantir a segurança do mundo.

Isso não poderia acontecer.

Então, aqui na ONU, maiorias podem decidir qualquer coisa de modo automático. Podem decidir que o Sol se põe no oeste ou nasce no oeste. Penso que a primeira alternativa já foi pré-ordenada. Mas essas maiorias também podem decidir... e decidiram, que o Muro das Lamentações, em Jerusalém, o lugar mais sagrado do judaísmo, é território palestino ocupado.

E até mesmo aqui, na Assembléia Geral, a verdade às vezes pode entrar. Em 1984, quando fui nomeado embaixador de Israel nas Nações Unidas, visitei o grande rabino de Lubavich. Ele me disse... e, senhoras e senhores, não quero que nenhum de vocês se ofenda por causa da experiência pessoal de servir aqui, sei que há muitos homens e mulheres honrados, muitas pessoas capazes e decentes servindo suas nações na ONU. Mas eis o que o rabino me disse. Ele me disse: você vai servir numa casa de muitas mentiras. E então falou: lembre que, até mesmo no lugar mais escuro, a luz de uma única vela pode ser vista em toda parte.

Hoje espero que a luz da verdade brilhe, mesmo que apenas por alguns minutos, em um salão que há muito tempo tem sido um local de trevas para meu país. Como primeiro-ministro de Israel, não vim aqui para ganhar aplausos. Vim aqui para falar a verdade. A verdade é... a verdade é que Israel quer a paz. A verdade é que eu quero a paz. A verdade é que no Oriente Médio, em todos os momentos, mas especialmente nestes dias turbulentos, a paz deve ser ancorada na segurança. A verdade é que não podemos alcançar a paz por intermédio de resoluções da ONU, mas apenas por meio de negociações diretas entre as partes. A verdade é que até agora os palestinos se recusaram a negociar. A verdade é que Israel quer a paz com um Estado palestino, mas os palestinos querem um Estado sem paz. E a verdade é que a ONU não deve deixar isso acontecer.

Senhoras e senhores, quando cheguei aqui, há 27 anos, o mundo estava dividido entre o Oriente e o Ocidente. Ao longo desse período, a guerra fria terminou, as grandes civilizações se levantaram de séculos de sono, centenas de milhões de pessoas foram retiradas da pobreza, incontáveis mais estão prontas para acompanhá-las, e a coisa notável é que até agora essa mudança histórica monumental em grande parte ocorreu de maneira pacífica.No entanto, um tumor maligno que ameaça a paz de todos cresce entre Oriente e Ocidente,. Ele procura não libertar, mas escravizar, não construir, mas destruir.

Esse tumor maligno é o islamismo militante. Ele se esconde no manto de uma grande fé, ainda que assassine judeus, cristãos e muçulmanos com imparcialidade implacável. Em 11 de setembro [de 2001], matou milhares de estadunidenses, e deixou as torres gêmeas em ruínas, ardendo em fogo. Na noite passada, coloquei uma coroa de flores no memorial de 11 de setembro. Foi profundamente comovente. Mas, enquanto eu me encaminhava para lá, algo ecoou em minha mente: as palavras ultrajantes do presidente do Irã, ontem, aqui nesta tribuna. Ele deu a entender que o 11 de setembro foi uma conspiração estadunidense. Alguns de vocês deixaram esta sala. Todos deveriam tê-la deixado.

Desde 11 de setembro, militantes islâmicos abateram inúmeros outros inocentes – em Londres e Madri, em Bagdá e Mumbai, em Tel Aviv e Jerusalém, em toda parte de Israel. Acredito que o maior perigo enfrentado pelo mundo é que esse fanatismo vai munir-se de armas nucleares. E é precisamente isso que o Irã está tentando fazer.

Vocês podem imaginar que o homem que vociferava aqui ontem... podem imaginá-lo com armas nucleares? A comunidade internacional deve deter o Irã antes que seja tarde demais. Se o Irã não for detido, vamos todos enfrentar o fantasma do terrorismo nuclear, e a Primavera Árabe poderá tornar-se, em breve, um inverno iraniano. Isso seria uma tragédia. Milhões de árabes tomaram as ruas para substituir a tirania pela liberdade, e ninguém se beneficiaria mais do que Israel se aqueles comprometidos com a liberdade e a paz prevalecessem.

Essa é minha esperança fervorosa. Mas, como primeiro-ministro de Israel, não posso arriscar o futuro do Estado judeu em utopias. Os líderes devem ver a realidade como ela é, não como deveria ser. Devemos fazer o nosso melhor para moldar o futuro, mas não podemos escamotear os perigos do presente.

E o mundo em torno de Israel está, definitivamente, tornando-se mais perigoso. O islamismo militante já tomou o Líbano e Gaza. Está determinado a rasgar os tratados de paz entre Israel e Egito e entre Israel e Jordânia. Está envenenando muitas mentes árabes contra os judeus e Israel, contra os Estados Unidos e o Ocidente. Opõe-se não às políticas de Israel, mas à existência de Israel.

Agora, alguns argumentam que a disseminação do islamismo militante, especialmente nestes tempos turbulentos... se você quiser retardá-lo, alegam, Israel deve se apressar em fazer concessões, em fazer concessões territoriais. E essa teoria parece simples. Basicamente, é assim: deixe o território e a paz avançará. Os moderados sairão fortalecidos, os radicais serão encurralados. E não se preocupe com os incômodos detalhes de como Israel vai se defender; tropas internacionais farão o trabalho.

Essas pessoas me dizem constantemente: basta fazer uma oferta abrangente e tudo vai dar certo. Vocês sabem, há apenas um problema com essa teoria. Nós a tentamos e não funcionou. Em 2000, Israel fez uma oferta de paz abrangente que cobriu praticamente todas as exigências palestinas. Arafat a rejeitou. Os palestinos, em seguida, lançaram um ataque terrorista que custou milhares de vidas israelenses.

O primeiro-ministro Olmert fez uma oferta ainda mais ampla em 2008. O presidente Abbas nem sequer respondeu a ela.

Mas Israel fez mais do que apenas propor ofertas abrangentes. Nós deixamos o território. Nos retiramos do Líbano em 2000 e de cada centímetro quadrado de Gaza em 2005. Isso não acalmou a tempestade islâmica, a tempestade militante islâmica que nos ameaça. Isso só trouxe a tempestade mais perto e a tornou mais forte.

Hezbollah e Hamas dispararam milhares de foguetes contra nossas cidades de cada território que abandonamos. Vejam, quando Israel deixou o Líbano e Gaza, os moderados não derrotaram os radicais, os moderados foram devorados pelos radicais. E lamento dizer que as tropas internacionais, como UNIFIL no Líbano e UBAM (ph) em Gaza não impediram os radicais de atacar Israel.

Saímos de Gaza na esperança da paz.

Não congelamos as colônias na Faixa de Gaza; nós as tiramos de lá. Fizemos exatamente o que a teoria diz: saiam, voltem às fronteiras de 1967, desmantelem as colônias.

E não creio que as pessoas se lembrem quão longe fomos para conseguir isso. Tiramos milhares de pessoas de suas casas. Tiramos crianças de... de suas escolas e de seus jardins de infância. Destruímos sinagogas. Nós até mesmo... até mesmo tiramos entes queridos de seus túmulos. E, em seguida, tendo feito tudo isso, entregamos as chaves de Gaza ao presidente Abbas.

Ora, a teoria diz que isso deve dar certo, e o presidente Abbas e a Autoridade Palestina poderiam construir um Estado pacífico em Gaza. Vocês pode se lembrar de que o mundo inteiro aplaudiu. Eles aplaudiram nossa retirada como um ato de grande habilidade política. Foi um ato corajoso de paz.

Mas, senhoras e senhores, nós não conseguimos a paz. Alcançamos a guerra. Alcançamos o Irã, que, por meio de seu plenipotenciário Hamas, prontamente expulsou a Autoridade Palestina. A Autoridade Palestina entrou em colapso em um dia... em um dia.

O presidente Abbas disse nesta tribuna que os palestinos estão armados apenas com suas esperanças e seus sonhos. Sim, esperanças, sonhos e 10 mil mísseis e foguetes Grad fornecidos pelo Irã, para não mencionar o rio de armas letais fluindo agora para Gaza do Sinai, da Líbia e de outros locais.

Milhares de mísseis já choveram sobre nossas cidades. Então vocês podem entender que, dado tudo isso, os israelenses perguntem, de modo correto: como evitar que isso aconteça também na Cisjordânia? Vejam, a maioria de nossas principais cidades do sul do país estão a algumas dezenas de quilômetros de Gaza. Mas no centro do país, em frente à Cisjordânia, nossas cidades estão a algumas centenas de metros ou, no máximo, a poucos quilômetros de distância da fronteira da Cisjordânia.

Por isso quero perguntar a vocês. Será que algum de vocês... que qualquer um de vocês traria o perigo para tão perto de suas cidades, de suas famílias? Vocês agiriam de maneira tão descuidada com a vida de seus cidadãos? Israel está preparado para ter um Estado palestino na Cisjordânia, mas não estamos preparados para ter outra Gaza lá. E é por isso que precisamos ter acordos de segurança reais, que os palestinos simplesmente se recusam a negociar conosco.

Os israelenses se lembram das lições amargas de Gaza. Muitos dos críticos de Israel as ignoram. Eles, de maneira irresponsável, aconselham Israel a ir por esse caminho arriscado mais uma vez. Ao ler-se o que essas pessoas dizem, é como se nada tivesse acontecido... elas apenas repetem os mesmos conselhos, as mesmas fórmulas, como se nada disso houvesse ocorrido.

E esses críticos continuam a pressionar Israel a fazer concessões de larga escala, sem primeiro garantir a segurança de Israel. Louvam como estadistas louváveis aqueles que, de modo involuntário, alimentam o crocodilo insaciável do islamismo militante. Apresentam como inimigos da paz aqueles de nós que insistem que devemos primeiro construir uma barreira resistente para manter o crocodilo de fora, ou no mínimo colocar uma barra de ferro entre suas mandíbulas escancaradas.

Assim, diante de rótulos e calúnias, Israel deve considerar melhor conselho. Melhor uma imprensa ruim do que um elogio bom, e melhor ainda seria uma imprensa justa, cujo sentido da história se estendesse além do café da manhã, e que reconhecesse as preocupações legítimas de Israel com sua segurança.

Acredito que em negociações sérias de paz, essas necessidades e preocupações podem ser devidamente tratadas, mas não serão resolvidas sem negociações. E as necessidades são muitas, porque Israel é um país bem pequeno. Sem Judeia e Samaria, a Cisjordânia, Israel tem, ao todo, nove milhas de largura.

Quero colocar isso em perspectiva, porque vocês estão todos nesta cidade. Isso [nove milhas] corresponde a cerca de dois terços do comprimento de Manhattan.É a distância entre Battery Park e Universidade de Colúmbia. E não se esqueçam de que as pessoas que vivem no Brooklyn e em Nova Jersey são consideravelmente mais agradáveis do que alguns dos vizinhos de Israel.

Assim, como vocês... como vocês protegem um país tão pequeno, cercado por pessoas que juraram sua destruição e armados até os dentes pelo Irã? Obviamente vocês não podem defendê-lo apenas nesse espaço estreito. Israel precisa de maior profundidade estratégica, e é exatamente por isso que a Resolução 242 do Conselho de Segurança não exige que Israel deixe todos os territórios tomados na Guerra dos Seis Dias. Ele fala na retirada dos territórios, para fronteiras seguras e defensáveis. E, para se defender, Israel deve manter uma presença militar de longo prazo em áreas estratégicas, críticas, da Cisjordânia.

Expliquei isso ao presidente Abbas. Ele respondeu que, para ser soberano, o Estado palestino jamais poderia aceitar tais acordos. Por que não? Os Estados Unidos manteve tropas no Japão, na Alemanha e na Coréia do Sul por mais de meio século. A Grã-Bretanha teve um espaço aéreo em Chipre, ou melhor, uma base aérea em Chipre. A França tem forças em três nações independentes da África. Nenhum desses Estados alega que não é soberano.

E há muitas outras questões de segurança vital que também devem ser abordadas. Vejamos a questão do espaço aéreo. Mais uma vez, as pequenas dimensões de Israel criam problemas enormes de segurança. Os Estados Unidos podem ser atravessados por avião a jato em seis horas. Para cruzar Israel, um avião leva três minutos. Então, o minúsculo espaço aéreo de Israel pode ser cortado pela metade e dado a um Estado palestino [que] não [está] em paz com Israel?

Nosso maior aeroporto internacional está a poucos quilômetros da Cisjordânia. Sem paz, nossos aviões vão se tornar alvos de mísseis antiaéreos colocados a nosso lado, no Estado palestino? E como vamos deter o contrabando na Cisjordânia? [O problema] Não é apenas a Cisjordânia, são as montanhas da Cisjordânia. Elas dominam a planície costeira, abaixo da qual fica a maioria da população de Israel. Como poderíamos evitar o contrabando, nessas montanhas, dos mísseis que poderiam ser atirados em nossas cidades?

Trago esses problemas porque eles não são problemas teóricos. São muito reais. E, para os israelenses, são assunto de vida e morte. Todas essas potenciais aberturas na segurança de Israel têm de ser fechadas num acordo de paz antes de um Estado palestino ser declarado, e não depois, porque, se deixarmos isso para depois, elas não serão fechadas. E esses problemas vão explodir em nossa cara e explodirão a paz.

Os palestinos devem primeiro fazer a paz com Israel e, em seguida, obter o seu Estado. Mas eu também quero dizer-lhes isso. Depois de um acordo de paz assim ser assinado, Israel não será o último país a dar as boas vindas a um Estado palestino como novo membro das Nações Unidas. Será o primeiro.

E há mais uma coisa. O Hamas tem violado a lei internacional, mantendo nosso soldado Gilad Shalit preso há cinco anos.

Eles ainda não permitiram uma única visita da Cruz Vermelha. Ele [Shalit] é mantido num calabouço, na escuridão, contra todas as normas internacionais. Gilad Shalit é filho de Aviva e Noam Shalit. É neto de Zvi Shalit, que escapou do holocausto vindo à... na década de 1930, como um menino, para a terra de Israel. Gilad Shalit é filho de cada família israelense. Cada nação aqui representada deve exigir sua libertação imediata. Se vocês quiserem... se vocês quiserem aprovar uma resolução sobre o Oriente Médio hoje, essa é a resolução que devem aprovar.

Senhoras e denhores, no ano passado, em Israel, na Universidade de Bar-Ilan, este ano no Knesset e no Congresso dos EUA, dei minha visão para a paz, em que um Estado palestino desmilitarizado reconhece o Estado judeu. Sim, o Estado judeu. Afinal, este é o órgão [ONU] que reconheceu o Estado judeu há 64 anos.Agora, vocês não acham que é hora de os palestinos fazerem o mesmo?

O Estado judeu de Israel sempre protegerá os direitos de todas as suas minorias, incluindo os mais de um milhão de cidadãos árabes de Israel. Eu gostaria de poder dizer a mesma coisa sobre um futuro Estado palestino, pois como as autoridades palestinas deixaram claro outro dia... na verdade, acho que fizeram isso aqui, em Nova York... eles disseram que o Estado palestino não vai permitir nenhum judeu em seu território. Eles serão um país sem judeus - Judenrein.Isso é limpeza étnica. Existem leis hoje, em Ramallah, que tornam a venda de terras a judeus punível com a morte. Isso é racismo. E vocês sabes que leis isso evoca.

Israel não tem intenção de mudar o caráter democrático de nosso estado. Nós apenas não queremos que os palestinos tentem mudar o caráter judaico do nosso Estado. Queremos desistir... queremos que eles desistam da fantasia de inundar Israel com milhões de palestinos.

O presidente Abbas esteve aqui [na tribuna] e disse que o núcleo do conflito israelense-palestino são as colônias. Bem, isso é estranho.Nosso conflito vem sendo travado há... grassava há quase meio século antes que houvesse uma única colônia israelense na Cisjordânia. Portanto, se o que o presidente Abbas diz é verdade, então a... acho que as colônias a que ele se refere são Tel Aviv, Haifa, Jaffa, Beer Sheva. Talvez fosse a isso que ele se referiu quando disse que Israel vem ocupando terras palestinas há 63 anos. Ele não disse a partir de 1967, ele disse a partir de 1948. Espero que alguém se preocupe em fazer-lhe essa pergunta, porque ela ilustra uma verdade simples: o núcleo do conflito não são as colônias. As colônias são um resultado do conflito.

As colônias têm de ser... é uma questão que tem de ser abordada e resolvida no decorrer das negociações. Mas o núcleo do conflito sempre foi e, infelizmente, continua a ser a recusa dos palestinos em reconhecer um Estado judeu em qualquer fronteira.

Acho que é tempo de a liderança palestina reconhecer o que todo líder internacional sério reconheceu, de Lorde Balfour e Lloyd George, em 1917, ao presidente Truman, em 1948, ao presidente Obama, há apenas dois dias, aqui mesmo: Israel é o Estado judeu.

Presidente Abbas, pare de andar em torno desta questão.Reconheça o Estado judeu, e faça a paz conosco. Numa paz tão genuína, Israel está preparado para fazer concessões dolorosas.Acreditamos que os palestinos não devem ser nem cidadãos de Israel, nem seus súditos. Devem viver num estado livre e próprio. Mas devem estar prontos, como nós, para o compromisso. E nós sabemos que eles estão prontos para o compromisso e para a paz quando começarem a levar a sério as exigências de segurança de Israel e quando pararem de negar nossa ligação histórica à nossa antiga terra natal.

Muitas vezes os ouvi acusar Israel de judaizar Jerusalém. É como acusar os Estados Unidos de estadunizar Washington, ou a Grã-Bretanha de anglicizar Londres. Vocês sabem por que somos chamados "judeus"? Porque viemos da Judeia.

No meu gabinete, em Jerusalém, há um... há um selo antigo. É o timbre de um oficial judeu da época da Bíblia. O selo foi encontrado ao lado do Muro das Lamentações, e isso remonta há 2.700 anos, ao tempo do rei Ezequias. Agora, há o nome do funcionário judeu inscrito no timbre, em hebraico. Seu nome era Netanyahu. Esse é o meu sobrenome. Meu primeiro nome, Benjamin, remonta a mil anos antes de Benjamin - Binyamin - filho de Jacó, também conhecido como Israel. Jacó e seus 12 filhos percorriam essas mesmas colinas da Judeia e Samaria há 4 mil anos, e tem havido uma presença judaica contínua naquela terra desde então.

E os judeus que foram exilados de nossa terra nunca deixaram de sonhar com a volta: judeus na Espanha, na véspera da sua expulsão; judeus na Ucrânia, fugindo dos pogroms; judeus lutando contra o gueto de Varsóvia, quando os nazistas o cercaram. Eles nunca deixaram de rezar, eles nunca deixaram de ter saudade. Sussurravam: no próximo ano em Jerusalém. No próximo ano na terra prometida.

Como primeiro-ministro de Israel, falo por uma centena de gerações de judeus que foram dispersos pelas nações, que sofreram todo o mal sob o Sol, mas que nunca perderam a esperança de restabelecer a sua vida nacional no primeiro e único Estado judeu.

Senhoras e senhores, continuo a esperar que o presidente Abbas seja meu parceiro na paz. Trabalhei duro para fazer avançar a paz. No dia em que tomei posse, pedi negociações diretas sem condições prévias. O presidente Abbas não respondeu. Estabeleci como objetivo a paz de dois Estados para dois povos. Ele ainda não respondeu. Tirei centenas de bloqueios e de postos de controle [checkpoints, no original] para facilitar a liberdade de movimento nas áreas palestinas, o que facilitou um crescimento fantástico da economia palestina. Mas, de novo, sem resposta. Tomei a medida sem precedentes de congelar novas construções nas colônias por 10 meses. Nenhum primeiro-ministro fez isso antes, nunca. Mais uma vez... vocês aplaudem, mas não houve resposta. Nenhuma resposta.

Na últimas semanas, autoridades estadunidenses propuseram ideias para reiniciar as conversações de paz. Havia coisas nessas idéias sobre as fronteiras de que não gostei. Havia coisas lá sobre o Estado judeu que, tenho certeza, os palestinos não gostaram.

Mas, com todas as minhas reservas, eu estava disposto a avançar com base nessas ideias estadunidenses.

Presidente Abbas, por que não se junta a mim? Temos que parar de negociar sobre as negociações. Vamos apenas seguir em frente. Vamos negociar a paz.

Passei anos defendendo Israel no campo de batalha. Passei décadas defendendo Israel no tribunal da opinião pública. Presidente Abbas, você dedicou sua vida a promover a causa palestina. Esse conflito deve continuar por gerações ou vamos permitir que nossos filhos e netos falem, nos próximos anos, em como encontramos um modo de acabar com ele? Esse deve ser nosso objetivo, e é isso que, acredito, podemos alcançar.

Em dois anos e meio, nós nos encontramos em Jerusalém apenas uma vez, apesar de minha porta sempre ter estado aberta para você. Se quiser, vou a Ramallah. Na verdade, tenho uma sugestão melhor. Nós dois voamos milhares de quilômetros até Nova York. Agora estamos na mesma cidade. Estamos no mesmo edifício. Então, vamos nos reunir aqui hoje, nas Nações Unidas. Quem nos deteria? O que nos deteria? Se realmente queremos a paz, o que nos impediria de reunirmo-nos hoje e dar início às negociações de paz?

E sugiro que falemos aberta e honestamente. Vamos ouvir um ao outro. Vamos fazer como dizemos no Oriente Médio: vamos dizer "doogri". Isso significa “franqueza”. Falarei sobre minhas necessidades e preocupações. Você falará sobre as suas. E, com a ajuda de Deus, vamos encontrar um terreno comum para a paz.

Há um velho ditado árabe segundo o qual não se pode bater palmas com uma só mão. Bem, o mesmo é verdade em relação à paz. Não posso fazer a paz sozinho. Não posso fazer a paz sem você. Presidente Abbas, estendo minha mão - a mão de Israel - em paz. Espero que você aperte essa mão. Somos ambos filhos de Abraão. Meu povo o chama Avraham. Seu povo o chama Ibrahim. Partilhamos o mesmo patriarca. Vivemos na mesma terra. Nossos destinos estão interligados. Vamos realizar a visão de Isaías (fala em hebraico): "As pessoas que caminham na escuridão verão uma grande luz". Deixe que essa luz seja a luz da paz.

Tradução: Baby Siqueira Abrão

domingo, 23 de setembro de 2012

Irã diz que poderia lançar ataque preventivo contra Israel



Brigadeiro-general da Guarda Revolucionária diz que ataque em solo iraniano poderia desencadear 3º Guerra Mundial

Reuters

O Irã poderia lançar um ataque preventivo contra Israel em retaliação a um plano de investida militar, afirmou o brigadeiro-general da Guarda Revolucionária iraniana, Amir Ali Hajizadeh, a uma rede de televisão estatal do país.
"O Irã não irá começar a guerra, mas poderia lançar um ataque preventivo se tivesse certeza de que os inimigos estão dando os toques finais para nos atacar", disse a rede de TV iraniana em língua árabe Al-Alam parafraseando o comandante militar.
Hajizadeh afirmou, segundo reportagem publicada na página de Internet da rede de TV, que qualquer ataque em solo iraniano poderia desencadear a Terceira Guerra Mundial.
"Não podemos imaginar o regime sionista começar uma guerra sem o apoio dos Estados Unidos. Por isso, no caso de uma guerra, nós entraremos em guerra contra ambos", disse. "Neste caso, ocorreriam coisas imprevisíveis e inimagináveis, e poderia se converter na Terceira Guerra Mundial", acrescentou.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tem sinalizado de que poderia haver um ataque contra plantas nucleares do Irã e tem criticado a posição do presidente dos EUA Barack Obama favorável a sanções e diplomacia para evitar que o Irã construa uma bomba atômica.
Teerã nega que busque desenvolver armas atômicas e diz que seu programa nuclear é pacífico para gerar energia elétrica. 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Haverá Rapto Secreto?


Rapto Secreto
As surpreendentes origens da visão teológica dispensacionalista
por
Gerhard Pfandl

A data é um dia qualquer no futuro próximo. O lugar, um Boeing 747 voando sobre o Atlântico em direção a Londres. A maioria dos passageiros está dormindo ou fazendo qualquer outra coisa. Subitamente, quase metade deles desaparece no ar. Primeiro um, depois outro, então os que restam gritam enquanto percebem que o assento ao seu lado está vazio. Apenas os pertences de mão foram deixados. Os passageiros que ficaram gritam e choram, assustados. Os pais estão freneticamente procurando os filhos que desapareceram no meio do vôo.

Ficção científica? Não; essa é uma cena do primeiro volume de uma série intitulada Left Behind.[1] Escritos pelos autores cristãos Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins, esses livros têm permanecido no topo da lista de best-sellers em Nova York. Eles estão baseados na teoria de que sete anos antes do segundo advento de Cristo, os fiéis cristãos serão trasladados, arrebatados para o Céu. Por que exatamente sete anos? Porque uma das colunas dessa teoria é que a última das setenta semanas proféticas de Daniel 9:24 ainda está no futuro.
As raízes
As origens da teoria do arrebatamento secreto podem ser traçadas a partir do tempo da Contra-Reforma. Os reformadores protestantes no século 16 identificaram o papado como o anticristo da profecia.[2] Muitos eruditos jesuítas assumiram a tarefa de defender o papado contra esse ataque. O cardeal Robert Bellarmina (1542-1621), diretor do Colégio Jesuíta em Roma, buscou invalidar o princípio “dia-ano” da profecia como prova dos 1.260 anos de supremacia papal.[3]
O jesuíta espanhol Francisco Ribera (1537-1591) projetou a profecia do anticristo no futuro (futurismo), e outro espanhol, Luiz de Alcazar (1554-1613), defendeu que essas profecias já tinham se cumprido no tempo do Império Romano (preterismo).
O preterismo de Alcazar logo foi adotado pelo calvinista Hugo Grotius (1583-1645) na Holanda, e tornou-se o método favorito para interpretação da profecia bíblica entre os teólogos liberais.
Ribera aplicou as profecias do anticristo ao futuro anticristo pessoal que apareceria no tempo do fim e continuaria no poder por três anos e meio.[4] Por quase três séculos, o futurismo foi largamente confinado à Igreja Católica Romana, até que, em 1826, Samuel R. Maitland (1792-1866) bibliotecário do arcebispo de Canterbury, publicou um panfleto de 72 páginas [5] no qual promoveu a idéia de Ribera de um futuro anticristo. Logo outros clérigos protestantes adotaram a idéia e começaram a propagá-la amplamente. Entre eles estava John Henry Newman, líder do movimento Oxford, que depois tornou-se cardeal católico romano, e Edward Irving, famoso ministro presbiteriano escocês.
Dispensacionalismo
O futurismo de Ribera estabeleceu o fundamento para o dispensacionalismo, o qual ensina que Deus tem negociado diferentemente com a humanidade durante diferentes eras da história bíblica. John Nelson Darby (1800-1882) é usualmente considerado o pai do dispensacionalismo. Ele foi um advogado e pastor anglicano que, em 1821, desiludido com a frouxidão espiritual da Igreja, juntou-se a outro grupo religioso chamado Movimento dos Irmãos. Darby possuía uma mente brilhante. Não somente pregava fluentemente em francês e alemão, mas também traduziu o Novo Testamento para o alemão, francês e inglês. Foi autor de mais de 50 livros e, em 1848, tornou-se o líder do movimento.
Darby desenvolveu uma elaborada filosofia da História na qual ele a dividiu em oito eras ou dispensações, “cada uma das quais contendo uma ordem diferente pela qual Deus operou Seu plano redentivo”.[6] Além disso, Darby afirmava que a vinda de Cristo poderia ocorrer em dois estágios. O primeiro, um invisível “arrebatamento secreto” dos verdadeiros crentes fecharia o grande “parêntesis” ou a era da Igreja que começou quando os judeus rejeitaram a Cristo. Em seguida ao arrebatamento, as profecias do Antigo Testamento concernentes a Israel seriam literalmente cumpridas,[7] levando à grande tribulação que terminaria na segunda vinda de Cristo em glória. Nesse tempo, o Senhor estabeleceria um reino literal de mil anos sobre a Terra, tendo Israel como centro.
A visão escatológica de Darby figurou proeminentemente no fundamentalismo americano nos anos 20, quando cristãos conservadores defenderam o cristianismo protestante contra os desafios do darwinismo e da teologia liberal. Hoje, a maioria dos cristãos evangélicos aceita as principais colunas da escatologia de Darby.
O conceito de um arrebatamento antes do período da tribulação final, na verdade, não foi invenção de Darby. “Peter Jurieu em seu livro Approaching Deliverance of the Church (1687) ensinou que Cristo poderia vir para arrebatar os santos e retornar ao Céu antes do Armagedom. Ele falou de um arrebatamento secreto antes da Sua vinda em glória e o julgamento do Armagedom. O Comentário do Novo Testamento de Philip Doderidge e o Comentário, também sobre o Novo Testamento, de John Gill, usaram o termo “rapto” e a ele se referiram como iminente. É claro que esses homens criam que esse acontecimento precederia a descida de Cristo à Terra e o tempo do julgamento. O propósito era preparar crentes do tempo do julgamento.”[8]
A doutrina do arrebatamento foi disseminada ao redor do mundo, primariamente através do Movimento dos Irmãos e da Bíblia de Referência de Scofield. No século 20, foi ensinada em escolas como o Instituto Moody e no Seminário Teológico de Dallas. O Futuro do Grande Planeta Terra, de Hal Lindsey, e muitos outros livros propagaram a teoria do arrebatamento secreto.
Investigando a teoria
A teoria do arrebatamento secreto está fundamentada em numerosas hipóteses. Devido às limitações de espaço, podemos investigar brevemente apenas duas delas: 1) que a septuagésima das setenta semanas proféticas de Daniel 9:24-27 ainda está no futuro; e 2) que a Igreja não passará pela grande tribulação.
1. A septuagésima semana de Daniel 9:27
Embora a idéia de que a septuagésima semana de Daniel esteja ainda no futuro tenha aparecido primeiro nos escritos de Irineu (séc. 2 a.D.),[9] ela não desempenhou um papel significativo na teologia cristã até tornar-se uma coluna fundamental do dispensacionalismo no século 19. De acordo com essa visão, a 69ª semana termina com a entrada triunfal; e a 70ª “está separada das outras 69 por um período indefinido de tempo”.[10] Por qual razão? Porque a era da Igreja é vista como um parêntesis no plano de Deus, isto é, o relógio profético parou no domingo da Páscoa e voltará a bater depois do arrebatamento, quando Deus assumir a condução dos negócios com Israel no futuro.
Entretanto, não há razão lógica ou exegética para separar a 70ª semana das outras 69 semanas. Não existe nenhuma outra profecia de tempo nas Escrituras que tenha tal vácuo.[11]
O assunto nos versos 26 e 27 de Daniel 9 é o Messias, não o anticristo. De acordo com o verso padrão em Dan. 9:25 e 26, o príncipe da frase “o povo de um príncipe” pode também se referir a Jesus.[12] Mas embora o príncipe, no verso 26, se refira a Tito (como tipo do anticristo) e não ao Messias, ele não é o assunto do verso 27 porque, gramaticalmente, está em uma posição subordinada a “o povo”. É o povo que destrói o santuário e a cidade; não o príncipe. O “ele” do verso 27 deve reportar ao Messias no início do verso 26. Em Dan. 9:27, nós lemos que “Ele fará firme aliança com muitos”.
A expressão hebraica “cortar uma aliança” não é usada nesse texto. Ao contrário, o Messias, diz o texto, fortalecerá ou fará o concerto prevalecer. A referência não é a um novo concerto, mas a um concerto já feito. Se fosse o anticristo o autor dessa aliança com muitos, o profeta deveria ter usado a linguagem apropriada, ou seja, “mudar a aliança”.
Ao contrário da teoria dispensacionalista, a 70ª semana apresenta os pontos altos do ministério do Salvador.[13] Durante a primeira metade da semana, Ele fortaleceu ou confirmou o concerto através de Seus ensinamentos. Um exemplo disso é o sermão da Montanha, onde Jesus tomou uma seleção dos Dez Mandamentos aprofundando e fortalecendo o seu significado. Então, no meio da semana, Ele levou ao fim o significado teológico do papel dos sacrifícios, ao entregar-Se para a salvação da raça humana. Dessa forma, o concerto eterno foi confirmado e ratificado pela morte de Jesus Cristo.
2. A Igreja e a grande tribulação
De acordo com o dispensacionalismo, a tribulação depois do arrebatamento da Igreja durará sete anos. Seu propósito é “levar à conversão uma multidão de judeus”[14] que experimentarão o cumprimento da aliança de Israel. A base apresentada para apoiar esse conceito são as passagens de I Tes. 1:10; 5:9; Rom. 5:9; Apo. 3:10.
Cuidadosa exegese dos textos nas cartas aos romanos e aos tessalonicenses indica que “a ira vindoura” refere-se à ira de Deus que destruirá o ímpio por ocasião da segunda vinda [15] conforme indicado em II Tes. 1:7-10. Trata-se, portanto, da manifestação da ira de Deus no juízo final, não da tribulação precedente à vinda de Jesus. Paulo fala de esperarmos “dos Céus o Seu Filho, a quem Ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura” (I Tes. 1:10). É o segundo advento de Jesus, em cuja ocasião o arrebatamento terá lugar, que nos liberta da ira vindoura. Conseqüentemente, essa ira não pode vir antes do segundo advento.
A “hora da provação [peirasmos]” em Apo. 3:10 poderia se referir à grande tribulação, mas o texto não diz que o povo de Deus não a experimentará. A frase “Eu te guardarei” origina-se de duas palavras gregas: téréo eekTéréo tem o significado de “velar”, “guardar”, “preservar”; [16] e a preposição ek significa basicamente “de”,17 referindo-se à vinda de alguma coisa ou de alguém. Outra preposição grega–apo–expressa a idéia de separação, “longe de”.[18]
Em Sua oração sacerdotal, Jesus diz: “Não peço que os tires do [ek] mundo, e sim que os guardes [téréo] do [ek] mal” (João 17:15). Ao orar para que os discípulos fossem guardados do mal, Jesus não estava dizendo que Satanás não poderia tentá-los. Simplesmente pede que o Pai guarde os discípulos em segurança, vele sobre eles, impeça que o inimigo tenha vitória sobre eles.
Semelhantemente, em II Ped. 2:9, o apóstolo escreve: “É porque o Senhor sabe livrar da [ek] provação [peirasmos] os piedosos....” O apóstolo não está dizendo que o povo de Deus estará longe [apo] da tentação, mas que Ele os livrará dela [ek] em meio ao processo de ser tentado. Da mesma forma, o apóstolo João em Apo. 3:10 não está dizendo que os crentes serão conservados longe da [apo] hora da provação, mas que eles estarão protegidos durante esse tempo.
Dessa maneira, nenhum dos textos usados para apoiar a idéia de que a Igreja não passará pela grande tribulação está realmente dizendo isso. Na verdade, as Escrituras ensinam claramente que os santos de Deus passarão pela grande tribulação (Mat. 24:9; Mar. 13:11; Luc. 21:12-19; Apo. 13:14-17).[19]
Tribulação e livramento
A teoria do arrebatamento secreto, de origem recente, tem capturado a imaginação de milhões de cristãos sinceros. Seu ensinamento central – que o cumprimento da 70ª semana profética de Daniel está ainda no futuro – é baseado em pressuposições extrabíblicas. Semelhantemente, o ensinamento de que a Igreja não experimentará a grande tribulação poupa os seres humanos do temor e do sofrimento, mas é contrário ao que diz a Bíblia.
De acordo com as Escrituras, a Igreja passará pela grande tribulação, mas será liberta através do arrebatamento, por ocasião da segunda vinda de Jesus.
Referências
1. Tyndale House Publishers, Wheaton, Illinois.
2. Martinho Lutero, por exemplo, disse: “Eu creio que o papa é o demônio
mascarado e encarnado, porque ele é o anticristo”. Sämtliche Schriften, S.Louis: Concordia Pub. House, 1887, vol. 23, pág. 845.
3. L. R. Conradi, The Impelling Force of Prophetic Truth, Londres: Thynne and B. Co., Ltd., 1935, pág. 346.
4. Ibidem, vol. 2, págs. 489 a 493.
5. An Enquiry Into the Grounds on Which the prophetic Period of Daniel and St. John has been supposed to Consist of 1260 Years, 2ª ed., Londres, 1837, pág. 2.
6. Walter A. Elwell, Evangelical Dictionary of Theology, Grand Rapids: Baker Book House, 1984, pág. 292.
7. Essa visão ignora completamente a natureza condicional de muitas profecias do Antigo Testamento (Deut. 28:1 e 15; Jer. 4:1; 18:7-10).
8. Mal Couch (editor), Dictionary of Premillennial Theology: A Practical Guide to the People, Viewpoints and History of Prophetic Studies, Grand Rapids: Kregel Publications, 1996, pág. 346.
9. Irineu, Against Heresies 5.25.3, vol. 1, pág. 554.
10. J. Dwight Pentecost, Things to Come, Grand Rapids: Zoondervan, 1958, pág. 247.
11. Nenhuma das supostas profecias com vácuos, enumeradas por Pentecost, são tempos proféticos. Todas elas estão baseadas na idéia de que as profecias do Antigo Testamento concernentes a Israel deverão ser cumpridas literalmente no futuro.
12. W. H. Shea, Daniel 7-12, Nampa, Idaho: Pacific Press Pub. Association, 1996, págs. 75 e 76.
13. No pensamento dispensacionalista, a morte de Cristo não ocorre dentro das 70 semanas. “A extinção do Messias tem lugar apenas uns poucos dias após terminada a 69ª semana” (J. Dwight Pentecost, Op. Cit., pág. 248), e cerca ]de dois mil anos antes do início da 70ª semana, algum dia no futuro.
14. Ibidem, pág. 237.
15. John Stott, Romans, Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1994, pág. 146; Charles Wanamaker, Commentary on 1 & 2 Thessalonians, Grand Rapids, MI.: Wm. B. Eerdmans Pub., 1990, pág. 88.
16. W. F. Arndt, e F. W. Gingrich, “Téréo”, A Greek-English Lexicon, Chicago: University of Chicago Press, 1979.
17. Ibidem, “Ek”.
18. Ibidem, “Apo”.
19. Dizer que esses textos se referem ao remanescente judeu e não à igreja (J. Pentecost, Op; Cit., págs. 278 e 238) é argumentar com base na hipótese de que Deus cumprirá literalmente Suas profecias relacionadas a Israel.